quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Nosso Lar II









Nosso Lar

André Luiz é o nome fictício dado pelo autor ao personagem central para narrar suas reais experiências pessoais após a sua morte, cujas descrições foram ditadas por ele próprio e psicografadas por Chico Xavier, as quais deram origem ao livro: “Nosso Lar”:

(continuação)




No Gabinete do Ministro

Cercado de enfermos, não podia aproximar-me, como noutros tempos, sendo o amigo, o médico e o pesquisador. Ouvindo gemidos incessantes nos apartamentos contíguos, não me era lícito nem mesmo a função de enfermeiro nos casos de socorro urgente. Claro que não me faltava desejo. Minha posição ali, contudo, era assaz humilde para me atrever. Lísias, então esclareceu:
– Por que não pedir o socorro de Clarêncio? Atendê-lo-á por certo. Peça-lhe conselhos. Ele pergunta sempre por sua pessoa e tudo fará a seu favor.
Animou-me grande esperança. Consultaria o Ministro do Auxílio.
Decorridos muito tempo, era a minha vez.
Estava no gabinete em companhia de uma senhora idosa, que seria atendida primeiro.
– Nobre Senhor Ministro – começou a senhora –, venho pedir a favor de meus dois filhos. Desejava – replicou, aflita – que me concedesse recursos para protegê-los na Terra.
Quantos bônus-hora3 poderá apresentar pela sua pretensão?
– Trezentos e quatro.
– É de lamentar, pois aqui se hospeda, há mais de seis anos, e apenas deu à colônia, até hoje, trezentos e quatro horas de trabalho?!
– Mas quem os tolerará fazer o serviços que me incumbiram, senão os santos? – inquiriu a pedinte rebelde – fiz o possível, entretanto, aquela multidão de almas desviadas assombra a qualquer um!
Depois de pequena pausa, continuou:
– Que fará, pois, na Terra se não aprendeu ainda a suportar coisa alguma?
Volte aos Campos de Repouso, onde se abrigou ultimamente, e reflita. Examinaremos depois o seu assunto.
Sentou-se a mãe inquieta, enxugando lágrimas copiosas.
Em seguida, o Ministro fitou-me compassivamente e falou:
– Aproxime-se, meu amigo!




Elucidações do Ministro de Auxílio

Pulsava-me precipite o coração, vendo aquela mulher em lágrimas, tremia arrependido de haver marcado aquela audiência. O Ministro do Auxílio, como se adivinhasse minha sensação mais íntima, exclamou em tom firme:
– Pronto a ouvi-lo.
Ia solicitar instintivamente qualquer serviço médico em “Nosso Lar”, embora a indecisão que me dominava eu falei:
– Tomei a liberdade de vir até aqui, rogar para que me reintegre no trabalho. Qualquer trabalho útil me interessa desde que me afaste da inação.
– Já sei. Verbalmente pede qualquer gênero de tarefa; mas, no fundo, sente falta dos seus clientes, do seu gabinete, de serviço com que o Senhor honrou sua personalidade na Terra. Não teria ainda condição de ser médico em “Nosso Lar”, mas poderá assumir o cargo de aprendiz, oportunamente. Aprenderá lições novas em “Nosso Lar” e, depois de experiências úteis, cooperará eficientemente conosco, preparando-se para o futuro infinito.
Sentia-me radiante. Pela primeira vez, chorei de alegria na colônia.




A Visita Materna

Atento às recomendações de Clarêncio, procurava reconstituir energias para recomeçar o aprendizado. Noutro tempo, talvez me sentisse ofendido. Agora, Clarêncio tinha dobradas razões para falar-me com aquela franqueza. No íntimo, grande ansiedade de rever o lar terreno. Abstinha-me, porém, de pedir novas concessões. Calava-me, então, resignado e triste. Lísias fazia o possível por alegrar-me com os seus pareceres consoladores.
Um dia, contudo:
– Adivinhe quem chegou à sua procura!
Olhos arregalados de alegria, vi minha mãe entrar de braços estendidos.
– Filho! Meu filho! Vem a mim, querido meu!
Não posso dizer o que se passou comigo. Apenas senti-me criança Abracei-me a ela carinhoso, chorando de júbilo.
– Se é possível aproveitar estes minutos rápidos, em expansões de amor, por que desviá-los para a sombra das lamentações? Regozijemo-nos, filho, e modifica a atitude mental. Conforta-me tua confiança em meu carinho, experimento sublime felicidade em tua ternura filial, mas não posso retroceder nas minhas experiências. Amemo-nos, agora, com o grande e sagrado amor divino.
Aquelas palavras benditas me despertaram.
Minha mãe me contemplava desvanecida, mostrando belo sorriso. Ergui-me, respeitoso, e beijei-a na fronte.



Confidências

Consolou-me a palavra maternal.
Minha mãe comentava o serviço como se fora uma bênção às dores e dificuldades, levando-as a crédito de alegrias e lições sublimes. Inesperado e inexprimível contentamento banhava-me o espírito. Sentia-me outro, mais alegre, animado e feliz.
– E meu pai? – perguntei – Onde está? Por que não veio com a senhora?
– Ah! Teu pai! Teu pai!... Há doze anos que está numa zona de trevas compactas, no Umbral.
Muitíssimo impressionado, perguntei:
– Não há, porém, meios de subtraí-lo a tais abjeções?
– Ah! Meu filho – elucidou a palavra materna –, eu o visito frequentemente. Ele, porém, não me percebe. Seu potencial vibratório é ainda muito baixo. Tento atraí-lo ao bom caminho, pela inspiração, mas apenas consigo arrancar-lhe algumas lágrimas de arrependimento...
Depois de longa pausa, suspirou, continuando:
– Talvez não saibas ainda que tuas irmãs Clara e Priscila vivem hoje igualmente no Umbral, agarradas à crosta da Terra. Meu único auxílio direto era tua irmã Luísa, que sempre foi meu braço forte nos trabalhos ásperos de amparo à família terrena. Ultimamente, contudo, voltou a semana passada, a fim de reencarnar entre eles, num gesto de sublime renúncia.
A palestra estendeu-se ainda longa. Depois ela despediu-se.
– Meu filho, Esperam-me com urgência no Ministério da Comunicação, além disso, preciso ainda visitar o Ministro Célio, para agradecer a oportunidade desta visita.
E, deixando-me n'alma duradoura impressão de felicidade, beijou-me e partiu.




Em Casa de Lísias

Lísias me veio buscar, a chamado do Ministro do Auxílio. Segui-o, surpreso.
Recebido amavelmente pelo magnânimo benfeitor, esperava-lhe as ordens com enorme prazer.
– Meu amigo, doravante está autorizado a fazer observações nos diversos setores de nossos serviços, com exceção dos Ministérios de natureza superior. Henrique de Luna deu por terminado seu tratamento, e é justo, agora, aproveite o tempo observando e aprendendo. Guarde este documento, com ele, poderá ingressar nos Ministérios da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação e do Esclarecimento, durante um ano. Decorrido esse tempo, veremos o que será possível fazer conforme seus desejos. Instrua-se, meu caro. Não perca tempo.
Lísias, porém, cortou-lhe a palavra, exclamando:
– Se possível, estimaria recebê-lo em nossa casa, enquanto perdurar o curso.
Passados alguns minutos de caminhada, estávamos à porta de graciosa construção.
– Mãe! Mãe!... – gritou Lísias, apresentando-me alegremente.
– Seja bem-vindo, amigo! – exclamou a senhora, nobremente – Esta casa é sua.
Em seguida aos conceitos obrigatórios de apresentação, com que relacionei minha procedência, vim a saber que a família de Lísias vivera em antiga cidade do Estado do Rio de Janeiro; que sua mãe chamava-se Laura e que, em casa, tinha consigo duas irmãs, Iolanda e Judite.
Respirava-se, ali, doce e reconfortante intimidade.
Tudo simples, mas confortável.
Não voltara a mim da admiração que me empolgava, quando a senhora Laura convidou à oração.
Naquele momento, sentia-me dominado de profunda e misteriosa alegria.




Amor, Alimento das Almas

Terminada a oração, a dona da casa, serviu-nos caldo reconfortante e frutas perfumadas. Surpreendido, ouvi a senhora Laura observar com graça:
– Afinal, nossas refeições aqui são muito mais agradáveis que na Terra. Há residências, em “Nosso Lar”, que as dispensam quase por completo; mas, nas zonas do Ministério do Auxílio, não podemos prescindir dos concentrados fluídicos, tendo em vista os serviços pesados que as circunstâncias impõem. Despendemos grande quantidade de energias. É necessário renovar provisões de força.
– Isso, porém – ponderou uma das jovens –, não quer dizer que somente nós, os funcionários do Auxílio e da Regeneração, vivamos a depender de alimentos. Todos os Ministérios, inclusive o da União Divina, não os dispensam, diferindo apenas a feição substancial. Na Comunicação e no Esclarecimento há enorme dispêndio de frutos.
Sorriam todos da minha natural perplexidade, mas a mãe de Lísias veio ao encontro dos meus desejos, explicando:
– Nosso irmão talvez ainda ignore que o maior sustentáculo das criaturas é justamente o amor. De quando em quando, recebemos em “Nosso Lar” grandes comissões de instrutores, que ministram ensinamentos relativos à nutrição espiritual. Todo sistema de alimentação, nas variadas esferas da vida, tem no amor a base profunda. Quanto mais nos elevarmos no plano evolutivo da Criação, mais extensamente conheceremos essa verdade.
Decorridos momentos, a senhora Laura falou sorridente:
– Todos vocês trabalharam muito hoje. Utilizaram o dia com proveito. Não estraguem o programa afetivo, por nossa causa. Não esqueçam a excursão ao Campo da Música.
Saíram todos, em meio do júbilo geral.
– Vão em busca do alimento a que nos referíamos. Os laços afetivos, aqui, são mais belos e mais fortes. O amor, meu amigo, é o pão divino das almas.




A Jovem Desencarnada

– Sua neta não vem à mesa para as refeições? –
– Por enquanto, alimenta-se a sós – esclareceu dona Laura –,continua nervosa, abatida.
Manifestei desejo de visitar a recém-chegada do planeta.
– Este amigo, Eloísa – indicando-me –,voltou da esfera física, há pouco tempo.
A moça fitou-me curiosa.
– Donde vem você, Eloísa? – interroguei.
– Do Rio de Janeiro.
– Você é muito feliz. Desencarnou há poucos dias, está com os seus parentes e não conheceu tempestades na grande viagem...
– Não imagina, o quanto tenho sofrido. Oito meses de luta com a tuberculose, fora os tratamentos... ainda transmiti a moléstia a minha carinhosa mãe... Além disso, fiz sofrer o meu pobre noivo...
– Ora, ora, não diga isso observou a senhora Laura a sorrir.
– Arnaldo, vovó, ficou sem consolo, desesperado.
– E acreditas sinceramente nessa impressão? – perguntou a matrona com inflexão de carinho. Observei teu ex-noivo, diversas vezes, no curso da tua enfermidade. Reconfortar-se-á muito depressa; quando puderes excursionar às esferas do planeta, em nossa companhia, já o encontrarás casado com outra.
– Será possível?
Vendo que a neta deseja provas, a senhora Laura insistiu, muito meiga:
– Não te recordas da Maria da Luz, a colega que te levava flores todos os domingos? Pois quando o médico anunciou a impossibilidade de restabelecer-te o corpo físico, Arnaldo, começou a envolvê-la com vibrações mentais diferentes.
– Ah! Que horror, vovó!
Enquanto Eloísa chorava, a mãe de Lísias convidou-me ir à sala de estar.
– Minha neta chegou profundamente fatigada. A rigor, o lugar dela seria em qualquer dos nossos hospitais; entretanto, julgou-se melhor situá-la junto ao nosso carinho. Isso, aliás, é do meu agrado, porque minha querida Teresa, sua mãe, está a chegar. Um pouco de paciência que é uma questão de tempo e serenidade.




Noções de Lar

Desejando colher valores educativos da senhora Laura, perguntei curioso:
– Desempenhando tantos deveres, a senhora ainda tem atribuições fora de casa?
– Sim; vivemos numa cidade de transição; e as almas femininas, aqui, assumem numerosas obrigações, preparando-se para voltar ao planeta ou para ascender a esferas mais altas.
– Quando o Ministério do Auxílio me confia crianças ao lar, minhas horas de serviço são contadas em dobro, o que lhe pode dar ideia da importância do serviço maternal no plano terreno. Entretanto, quando isso não acontece, tenho meus deveres diuturnos nos trabalhos de enfermagem, com a semana de quarenta e oito horas de tarefa. Todos trabalham em nossa casa. A não ser minha neta convalescente, não há qualquer pessoa da família em zonas de repouso. Oito horas de atividade no interesse coletivo, diariamente, é programa fácil a todos. Sentir-me-ia envergonhada se não o executasse também.

Continuando a Palestra

– Como se encara o problema da propriedade na colônia? Esta casa, por exemplo, pertence-lhe?  – indaguei.
– Tal como se dá na Terra, a propriedade aqui é relativa. Nossas aquisições são feitas à base de horas de trabalho. O bônus-hora, no fundo, é o nosso dinheiro. Nossa morada foi adquirida pelo trabalho de meu esposo, que veio antes de mim. Minhas lutas na viuvez haviam sido intensas. Muito moça ainda, com os filhos tive de enfrentar serviços rudes.
– E ele onde está? Como estimaria conhecê-lo!...
– Ricardo partiu há três anos. Nós combinamos novo encontro nas esferas da crosta. Temos trabalho, muito trabalho, na Terra. Quanto a mim, seguirei dentro de breves dias. A mãe de Eloísa, minha neta, não tardará. A passagem pelo Umbral será somente de algumas horas, em vista dos seus sacrifícios. Poderei, depois, transmitir-lhe minhas obrigações no Auxílio e partir sossegada.




O Bônus-Hora

– Que me diz do bônus-hora? Trata-se de alguma moeda de metal? – perguntei.
– Não é propriamente moeda, mas ficha de serviço individual, funcionando como valor aquisitivo; em “Nosso Lar” a produção de produtos elementares pertence a todos em comum. O celeiro fundamental é propriedade coletiva. Todos cooperam no engrandecimento do patrimônio comum e dele vivem. Os que trabalham, porém, adquirem direitos justos. Cada habitante de “Nosso Lar” recebe provisões de pão e roupa, no que se refere ao estritamente necessário; mas os que se esforçam na obtenção do bônus-hora têm suas vantagens. Quem não trabalha, poderá ser abrigado aqui, no entanto, os que cooperem podem ter casa própria. Quanto maior o valor do bônus-hora, maiores aquisições podemos fazer. Compreendemos, aqui, que nada existe sem preço e que para receber é indispensável dar alguma coisa.
– E o problema da herança? – inquiri de repente.
– Vejamos, por exemplo, o meu caso. Aproxima-se o tempo do meu regresso aos planos da crosta. Tenho comigo três mil Bônus-hora-Auxílio. Não posso legá-los a minha filha que está para chegar, por que esses valores serão revertidos ao patrimônio comum, permanecendo minha família apenas com o direito de herança do lar




Saber Ouvir

Lísias entrou em casa visivelmente satisfeito.
– Venha ao jardim, pois ainda não viu o luar destes sítios.
O espetáculo apresentava-se soberbo! Habituado à reclusão hospitalar, entre grandes árvores, ainda não conhecia o quadro maravilhoso da noite clara.
– Nunca presenciei tamanha paz! Que noite!...
O companheiro sorriu e acentuou:
– Há compromisso entre todos os habitantes equilibrados da colônia, de não emitirem pensamentos contrários ao bem. Esse esforço da maioria se transforma numa prece quase perene. Dai nascerem as vibrações de paz que observamos.
Depois dentro de casa, Lísias se aproximou de pequeno aparelho de rádio na sala.
Aguçou-me a curiosidade. Que iríamos ouvir? Mensagens da Terra? Ele esclareceu:
– Não ouviremos vozes do planeta. Nossas transmissões são forças vibratórias mais sutis que as da esfera da crosta.
– Mas não há recurso – indaguei – para recolher as emissões terrestres?
– Sem dúvida que temos elementos para fazê-lo, entretanto, no ambiente doméstico o problema de nossa atualidade é essencial. A programação do serviço necessário, as notas da Espiritualidade Superior e os ensinamentos elevados estão muito acima da terrestre.
– Será tanto assim? E os parentes que ficaram a distância? Nossos pais, nossos filhos?
– Não devemos procurar notícias dos planos inferiores – prosseguiu, solícito – senão para levar auxílios justos. Convenhamos, porém, que ninguém auxiliará com justiça, experimentando desequilíbrios do raciocínio. Por isso, é indispensável a preparação conveniente, antes de novos contatos com os parentes terrenos.
– Mas, Lísias, você que tem um amigo encarnado, não gostaria de comunicar-se com ele?
– Sem dúvida, quando merecemos essa alegria. Não devemos esquecer, entretanto, que somos criaturas falíveis. Necessitamos ter o merecimento de cada caso.
Saiba que, da esfera superior, é possível descer à inferior com mais facilidade. Sendo preciso compreender devidamente os que se encontram nas zonas mais baixas. É muito importante saber falar como saber ouvir.
E, enquanto ficava em silêncio, Lísias ligou a recepção sob meus olhos curiosos.




O Impressionante Apelo

Ligado o receptor, suave melodia envolveu o ambiente, mostrando-se na tela o locutor, a falar:
– Emissora do Posto Dois, de “Moradia”. Continuamos a irradiar o apelo da colônia, em benefício da paz na Terra. Concitamos os colaboradores de bom ânimo a congregar energias no serviço de preservação do equilíbrio moral nas esferas do globo. Ajudai-nos, quantos puderem ceder algumas horas de cooperação nas zonas de trabalho que ligam as forças obscuras do Umbral à mente humana. Negras falanges da ignorância, depois de espalharem os fachos incendiários da guerra na Ásia, cercam as nações europeias, impulsionando-as a novos crimes.
Lísias me explicou:
– Estamos ouvindo “Moradia”, velha colônia de serviços muito ligada às zonas inferiores. Como sabe, estamos em agosto de 1939. Seus últimos sofrimentos pessoais não lhe deram tempo para ponderar sobre a angustiosa situação do mundo, mas posso afiançar que as nações do planeta se encontram na iminência de tremendas batalhas.
– Que diz? – indaguei aterrado – pois não bastou o sangue da última grande guerra?
A essa altura, Lísias desligou o aparelho e vi-o enxugar discretamente uma lágrima, que seus olhos não conseguiam conter. Num gesto expressivo, falou comovido:
– Grandes abnegados, os irmãos de “Moradia”! Tudo inútil, porém – acentuou triste, depois de ligeira pausa –, a humanidade terrestre pagará, em dias próximos, terríveis tributos de sofrimento.




Generoso Alvitre

No dia imediato, muito cedo, fiz leve refeição em companhia de Lísias e familiares. A senhora Laura encorajou-me o espírito hesitante, dizendo, bem-humorada:
– Já lhe arranjei companhia para hoje. Nosso amigo Rafael, funcionário da Regeneração, passará por aqui, a meu pedido. Rafael é antiga relação de nossa família e vai apresentá-lo, em meu nome, ao Ministro Genésio.
Não poderia explicar o contentamento que me dominou a alma.
Lísias, por sua vez, demonstrou grande alegria.
– Estou informada de que pediu trabalho há algum tempo... Sei, igualmente, que não o obteve de pronto, recebendo, mais tarde, a necessária autorização para visitar os Ministérios É justamente neste sentido que lhe ofereço minhas sugestões humildes.  O Ministério da Regeneração é dado a lutas pesadas, localizando-se ali a região mais baixa de nossa colônia espiritual. Não se considere, porém, humilhado por atender às tarefas humildes.
Meus olhos estavam úmidos. Aquelas palavras, pronunciadas com meiguice maternal, serviam como bálsamo precioso. Poucas vezes sentira na vida tanto interesse fraternal pela minha sorte.
– Creio que você não veio a esta casa por casualidade. Estamos todos entrelaçados por amizade secular. Brevemente voltarei ao círculo da carne, mas continuaremos sempre unidos pelo coração. Espero vê-lo animado e feliz, antes de minha partida.

Trechos dos mais relevantes da obra “Nosso Lar” – ditada por André Luiz, psicografada por Chico Xavier.


(continua)