terça-feira, 18 de abril de 2017

Sobre a Vida dos Celtas XVI






Sobre a vida dos Celtas –XVI

Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff

Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XV

Anteriormente: Meinin ao descrever suas visões sobre os jardins eternos e o Filho do Pai Eterno, anunciou com acerto sua partida para a outra vida, Seabhac Habicht até teve de ser consolado por Nuado, em razão de que tal evento aconteceu de imediato, deixando-o, repentinamente, na viuvez...

Agora ele aguardava o surgimento de Nuado. Contudo, não fora ele que viera, mas sim uma graciosa figura feminina. Esta deveria ser Brigit, a guardiã de seu lar.
— “Tu agiste corretamente, Seabhac, ao recordares-te finalmente a respeito daquilo que tua esposa te havia dito antes que ela pudesse ascender. Isso é o único laço que quer sempre de novo puxá-la para baixo, o anseio para que finalmente se inicie a construção. Já por causa dela tu deves realizar a obra. Ela poderá então ascender de forma mais livre e fácil. Para teu povo, porém, a construção trará inúmeras bênçãos. Todos os pensamentos dirigir-se-ão através desse trabalho para coisas mais sagradas. Amor ao Filho de Deus que por amor quer vir, irá florescer nos corações por meio da obra que eles poderão realizar para Ele.”
— “Meinin e Brigit haviam visto alguma imagem referente a essa casa de Deus” disse Seabhac. “Eu, porém, não a vejo. Eu não posso imaginar que nós, com nossas ínfimas habilidades possamos realizar algo tão belo, nem de forma aproximada. Por isso eu hesitei em iniciar uma obra para a qual eu não estivesse preparado.”
— “Não tem que ser igualmente tão bela quanto a imagem original” sorriu Brigit graciosamente. “Ela também não se parecerá nem mesmo na parte mais ínfima e, apesar disso, será bela diante dos olhos do Pai Eterno, se vós a construirdes com o coração puro e por amor, disposto a sacrificar-vos”.

“Ponha mãos à obra! Na hora certa o auxílio te será enviado. Muitos servos do Pai Eterno compreendem aquilo que vós ainda não podeis. Eles poderão vos instruir. Apenas começai vós próprios.”
Comovido Seabhac olhava para a figura que desaparecia. O que ela havia dito? A obra deveria ser iniciada? Ainda hoje ele iria falar com Fionn, se ele gostaria de assumir a direção dos trabalhadores da obra. Fionn possuía uma intuição bem delicada para tudo que era belo, mais do que todos os outros. Além disso, ele ansiava por trabalho.
Mas a luminosa Brigit também havia falado de sua esposa. Ela estava ascendendo? Para onde? Certamente também para os jardins do Pai Eterno. Oh, Meinin, tu pura, certamente haverá trabalho para ti a serviço do mais elevado Senhor, como recompensa por tua fidelidade aqui embaixo.
Quando Seabhac virou-se para ir ele ouviu passos que se aproximavam, vindos do mar. Ele ficou esperando e reconheceu Fionn. Então, ambos podiam conversar logo a respeito de tudo. Isso era do agrado do pai. Fionn, porém, havia suplicado intimamente por uma indicação, a respeito do que ele deveria fazer. Ele considerou o pedido de Seabhac como a resposta do Pai Eterno e não refletiu sequer um momento para aceitar o serviço.
Mostrou-se que no coração de Fionn vivia a imagem de uma casa de pedra circular, a qual deveria ser semelhante àquela descrita pelas mulheres. Ele poderia, pois, pedir a Brigit que também lhe contasse sobre a maravilhosa construção.
No dia seguinte os homens haviam sido chamados para a casa de reunião. Seabhac relatou de forma simples a respeito do falecimento de Meinin e de tudo o que havia ocorrido um pouco antes. Os homens ouviam comovidos e imediatamente estavam dispostos em executar aquilo que sua princesa havia considerado como certo.

Fionn, que nesse meio tempo havia conversado com sua irmã, pôde fazer uma descrição aproximada de como a casa deveria parecer. Eles, na verdade, não podiam imaginá-la, mas exatamente por isso estavam ansiosos para construí-la segundo as aptidões do filho do príncipe. Então eles iriam pelo menos vê-la.
O local para essa finalidade foi facilmente encontrado. O tamanho dela foi construído de acordo com o tamanho do atual local de devoção, depois de terem sido afastadas as enormes rochas, oferecendo espaço para todos.
Então se iniciou a construção. Sempre de novo Brigit tinha de descrever as árvores de pedra e, aos poucos, Fionn compreendeu como ela as via, mas ele não sabia como deveria mandar fazê-las. Nenhuma pedra assim tão grande era ainda alta o suficiente, de modo que eles poderiam esculpi-la. E, apesar disso, a casa de Deus ainda deveria ser especialmente alta!
Fionn implorava noite após noite por auxílio. Ele estava convicto que o Pai Eterno lhe enviaria alguém, de modo que ele só tinha que mandar que fossem trazidas pedras e madeira e não fizesse nada no que dissesse respeito às árvores de pedra.
Um tempo ruim impediu o progresso da obra. Chuva forte caía e molhava os homens, os quais mal podiam ver o que eles tinham à mão. O vento de tempestade, gélido, assobiava em torno das figuras e ameaçava jogá-las ao chão. Era preciso que parassem e se arrastassem às cabanas. Retumbando, as ondas batiam na encosta rochosa. Podia-se ouvir o seu estrondo até na aldeia.
— “Ai daqueles que estão agora a navegar no mar” disse Cuimin pensativamente, quando pai e filhos estavam sentados junto ao fogo. Brigit ia para lá e para cá, provia a criadagem e, às vezes, saía também para fora ao ar livre. A ela não fazia nada quando o vento desfazia suas longas tranças da cabeça e as deixava esvoaçar longe. Também não a incomodava ficar molhada. Ela ouvia no estrondo das ondas, no bramir da tempestade, toda sorte de vozes, as quais lhe contavam a respeito da onipotência e grandeza do Pai Eterno. O que elas aí anunciavam formava-se em canções, as quais ela cantava com as moças. Agora ela vinha de volta para dentro com passos rápidos.
— “Pai, Fionn, vós tendes de ir ao mar! Um pequeno barco está em necessidades!”
— “Mas Brigit, tu não podes ver o mar daqui!” disse Cuimin pensativo. Fionn, porém, havia se levantado de um salto e saindo apressadamente. Seabhac seguiu-o mais lentamente. Cuimin balançou a cabeça.
— “Eu evidentemente também iria se fosse de supor que tu tiveste visto algo. Mas é totalmente impossível. Reflita Brigit, tu sonhaste. Então chamaremos de volta os dois antes que sejam atingidos pela chuva!”

A irmã dirigiu-se sem palavras para frente da cabana e ficou parada por um momento em pé, silenciosa. Então ela bateu à porta do vizinho e pediu-lhe para que fosse igualmente ao mar, já que ambos sozinhos não podiam fazer nada na tempestade.
Colm nem perguntou de onde é que ela sabia que um barco estava em necessidades. Bastava-lhe que o chefe precisava de seus serviços. Apressadamente ele correu para a praia. Brigit, porém, voltou à cabana, a fim de preparar um leito para a recepção do provável hóspede que ela havia visto e que teria se acidentado, gravemente...

(continua)

Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos

Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht  

Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino salva e aceita para proteção.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.

Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é, Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.

Pieder – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Cuimin – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Brigit – príncesa filha de Seabhac, Habicht e Meinin

Fionn – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin