terça-feira, 11 de abril de 2017

Sobre a Vida dos Celtas XI








Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XIV

Sobre a vida dos Celtas –XV

Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff

Anteriormente: Com a significativa anunciação de Meiinin sobre o vindouro nascimento do Filho do Pai Eterno na Terra, Seabhac Habicht decidiu aceitar a intuitiva sugestão da princesa, sua filha Brigit, em construir uma morada sagrada, como templo para recepcionar essa presença divina...

— “Eu o estou vendo! Eu o estou vendo!” Jubilaram ambas as mulheres, se expressando ao mesmo tempo.

E então, alternando-se, elas relataram, uma completando o que a outra dizia, sem fôlego, aquilo que se mostrava diante de seus olhos espirituais em uma nitidez palpável.
— “Alto e claro é ele. Ele é arejado e brilhante. Precioso ouro reveste suas paredes. Pedras preciosas ornamentam-no. As paredes não são espessas e rígidas como as nossas. Sempre de novo elas são intercaladas por aberturas. Parece como se apenas árvores de pedras suportassem o telhado. Entremeio não há então nada mais do que resplendor e claridade.
Degraus conduzem para cima, largos e brancos degraus. Há uma pedra de sacrifício, alta e brilhante e sobre ela encontra-se um precioso incensório, mas dele não flui nenhuma fumaça. Nele borbulha como uma fonte. Soam sons, cantos celestiais. Vocês também os ouvem?” A última pergunta foi feita por Meinin, totalmente comovida. Com os olhos resplandecentes ela olhava para cima, para onde ela sempre podia ver ainda a imagem do Santuário. Quase sussurrando ela relatou adiante, enquanto a filha emudecera:
— “Ele, o rei dos céus, pisa Ele próprio sobre os degraus. Ele encontra-se de pé junto à mesa do Pai Eterno, Ele próprio, Deus. Todos os anjos inclinam-se diante Dele, todos os servos luminosos atiram-se ao solo, diante de Sua sagrada presença.
Senhor, Rei do Céu e de toda Terra, eu pude Te servir nessa vida. Não deixe que termine com isso. Deixa-me Te servir quando Teus sagrados pés tocarem a Terra, a fim de purificá-la e soerguê-la. Na mais pobre vestimenta humana eu quero vir, se apenas puder Te servir. Não me recuse!”

Pai e filha entreolharam-se. Falava ela sobre o Filho de Deus que deveria vir logo? Será que ela havia tomado conhecimento que deveria partir? Pedia ela para que lhe fosse permitido viver mais uma vez? Todas essas perguntas giravam em torno de ambos, que a amavam. Eles olhavam Meinin. Ela havia se tornada pálida, os olhos irradiantes fecharam-se. Como se estivesse cansada ela caiu nos braços abertos da filha. No mesmo momento, Brigit soube que ela, terrenalmente, havia perdido a mãe.
— “Mãe” exclamou ela suavemente “pudestes partir depois de teres visto todo o resplendor, toda magnificência celeste?”
Seabhac ainda não havia compreendido que sua esposa o havia deixado. Com braços fortes ele ergueu a companheira de sua vida, a fim de levá-la ao seu leito. Então, Nuado colocou-se ao seu lado.
— “Seabhac, sede forte” soou sua vibrante voz. “Tua esposa está a se elevar às alturas, pelas quais sua alma ansiava. Quem for agraciado a ver aquilo que fora mostrado hoje à tua esposa, este não pode mais viver aqui embaixo. Seu anseio tornar-se-á poderoso demais. Sua súplica encontrará realização. Quando o Rei do Céu e de toda Terra pisar sobre o globo terrestre, a fim de realizar o Juízo, ela poderá ser uma de Suas servas terrenas.
Tu, não ficarás por muito tempo sozinho. Chama teus filhos de volta, para que Cuimin aprenda a reger como tu. Brigit, porém, será a sucessora da mãe. Ela será vidente e anunciará sobre o Pai Eterno.”
Com profunda dor o povo orou por sua princesa falecida. O anseio por aquela que havia partido para a Pátria, havia deixado os cabelos de Seabhac brancos como a neve, mas o som de sua voz era tranquilo, suas palavras anunciavam gratidão e confiança. Admirado o povo olhava para seu príncipe, que também aqui, era um guia.
De forma totalmente evidente Brigit preencheu a lacuna que o falecimento de Meinin havia ocasionado. Uma maravilhosa tranquilidade preenchia a moça. A ligação com os servos luminosos do Pai Eterno era tão forte que Brigit só realizava aquilo que lhe era ordenado. Ela não tinha nenhuma vontade própria, nem mesmo um pensamento próprio. Ela era totalmente um instrumento.
Demorou um bom tempo até que os distantes irmãos retornassem. A mais de um ano a princesa já se encontrava na terra, em seu local preferido do jardim. Flores floresciam magnificamente no local que estava marcado por uma pedra sem enfeites.
De fato Cuimin e Fionn haviam se entristecido por não encontrarem mais a mãe, à qual eles estavam intimamente ligados, mas a estada distante do lar havia afrouxado um pouco, por parte de ambos, os laços da pátria. Eles suportaram de forma mais fácil do que Seabhac havia receado.

Os jovens homens tinham muito o que relatar a respeito de tudo o que eles haviam aprendido e visto no local a eles estranho. Coisas boas e ruins ressaltavam-se de suas lembranças, mas Seabhac viu com indizível felicidade, que ambos haviam se conservado em pureza, pois eles sabiam diferenciar muito bem aquilo que podia persistir diante dos olhos do Pai Eterno e aquilo que era disseminado por Lug.
Mas também os filhos olhavam com os olhos claros em torno de si. Eles olhavam com devotada admiração, como Brigit havia se desenvolvido. Ela não era mais para eles a irmãzinha; apenas a vidente, a sacerdotisa, é que eles ainda podiam ver nela.
— “Nosso pai é o melhor príncipe que existe” era seu julgamento a respeito de Seabhac e Cuimin acrescentou suspirando: “Que os servos do Pai Eterno queiram me auxiliar a me tornar como ele.”
Sob a direção firme de Seabhac o jovem rapaz havia assumido a posição dele sem notar. Seus novos deveres preenchiam seus dias, às vezes, também a metade das noites. Ele não tinha nenhum tempo para refletir, se ele desejava algo diferente para si.
Com Fionn não se dava a mesma coisa. Ele tinha esperado poder adquirir conhecimentos junto aos druidas sob a orientação de Donald. Mas os seus superavam até o saber dos sacerdotes. O pai não necessitava de seu auxílio. Como sucessor de Donald, Pieder estava determinado. Ele se sentiu supérfluo e se afligia. De preferência ele ficava de pé junto ao mar e olhava o vai e vem das ondas. Ele sonhava com longínquas distâncias. Diante de seus olhos interiores surgiam pessoas que levavam uma vida amarga, com costumes degenerados. E o desejo de poder auxiliar exatamente essas pessoas tornou-se cada vez mais intenso nele. Mas como ele deveria ir até elas? Ele não ousava falar nada ao pai a respeito de seu anseio. A ele mesmo não se tornava claro, porque não ousava falar nada a respeito disso. Não era, porém, algo injusto querer levar a outros a notícia a respeito do Pai Eterno?
Na mesma hora Seabhac encontrava-se diante da pedra de sacrifícios, à qual ele frequentemente dirigia seus passos. A construção que Meinin havia visto nas últimas horas de sua vida ainda não havia se iniciado. Brigit havia falado diversas vezes a respeito, mas o príncipe ainda não pudera se resolver. Uma palavra de Brigit, que ela havia dito hoje de manhã, certamente de forma involuntária havia-o atingido profundamente. A filha havia falado a respeito de um servo negligente: “Inúmeras são as desculpas que se inventa, quando alguém não leva a sério aquilo que se deve fazer.”

De repente o príncipe soube que ele igualmente não havia levado a sério a construção da casa para o Filho de Deus. Ele havia julgado que se ela devesse ser construída os mensageiros luminosos iriam dizer­-lhe. Agora ele sabia que fora ele que sempre perguntara por conselho em todas as coisas. E isto ele também deveria fazer desta vez. E para essa finalidade ele havia ido até o local de devoção. Parecia-lhe correto depositar a culpa de sua omissão e negligência sobre a pedra de sacrifícios e implorar ao Pai Eterno pelo perdão. Apenas então é que ele poderia esperar por uma resposta.
E assim aconteceu. Ele havia se arrependido, reconhecido e se sentido seguro do perdão. Ele também havia perguntado. Agora ele aguardava...

(continua)

Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos



Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht  

Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino salva e aceita para proteção.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.

Donald: Escolhido como novo Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)

Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é, Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.

Pieder – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Cuimin – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Brigit – príncesa filha de Seabhac, Habicht e Meinin

Fionn – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.