terça-feira, 14 de março de 2017

Sobre a Vida dos Celtas XI






Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas X

Sobre a vida dos Celtas –XI

Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff

Anteriormente: Seabhac Habicht que dirige seu povo respeitando ordens espirituais superiores, recebeu alerta de seu guia luminoso sobre a guerra, em cuja situação iminente que realmente ocorreu, em razão das invasões do inimigo em toda a região celta, depois de alguns anos de luta, voltava vitorioso junto de seu exército...

Fora resolvido então, que os mais jovens de cada tribo deveriam se associar a Seabhac para que fossem instruídos em seu país, pelos druidas e por ele próprio. Isso ofereceu uma consistência forte entre todos e, sobretudo o saber a respeito do Pai Eterno, como fora agora transmitido às pessoas, atuante sobre a vida inteira do grande reino, trazendo bênçãos. Os costumes tornaram-se melhores e por toda a parte deixaram de se realizar sacrifícios sangrentos, realizando no lugar destes, devoções de dedicação pessoal.
Quando Seabhac se separou do último chefe estranho, ele impeliu seus homens com a maior pressa. Na verdade ele também não sabia quanto tempo eles haviam ficado ausentes, mas lhe parecia um tempo imensamente longo. Já nos limites de seu pequeno principado, ele ouviu que a sua região não havia sofrido qualquer dano, apesar dos homens terem permanecido ausentes por quase três anos.
Com grande rapidez difundiu-se a notícia do retorno dos guerreiros. Como um canto de louvor atuava a alegria que por toda a parte se elevava. Donald com seus druidas e alunos caminhou quanto lhes foi possível ao encontro daqueles que chegavam de tão longe. Ele sentia-se impelido a levar a bênção do Pai Eterno aos guerreiros que haviam afastado a aflição do país. Quando ele, porém, se encontrou diante de Seabhac, irrompeu de dentro dele:

— “Príncipe, tu trazes a bênção contigo! Não é necessário que eu a procure transmitir a ti. Visivelmente ela rodeia a ti e teus homens. Ela brilha de tua fronte. Abençoado seja este dia a nós todos, no qual tu retornaste.”
— “Na verdade tu dissestes com razão: a bênção do Pai Eterno estava conosco. O conselho de Nuado nos guiou, as armas de Gobban nos auxiliaram a combater”, respondeu o príncipe comovido.
Juntos então eles se apressaram ao encontro da aldeia, onde Meinin e os filhos aguardavam o pai. Nos dias seguintes fora realizada uma solene devoção de agradecimento. Donald havia se desenvolvido maravilhosamente e Seabhac se alegrava por isso. As palavras que o druida superior falava ao povo parecia elevarem os espíritos às alturas, fazendo-os esquecer todo o penoso vivenciar. Qual um canto de júbilo soava a oração de agradecimento do sacerdote. Jubilosas soavam as cantigas das mulheres. Por fim, Seabhac prometeu que à noite falaria a todos que se reunissem e relataria a respeito das vivências dos últimos anos, especialmente do retorno para o lar.
Todos participaram daquela reunião. Também os homens que haviam vivenciado juntos, estavam cobiçosos para penetrarem ainda mais profundamente no sentido dos acontecimentos, por meio das palavras do príncipe. Tornou-lhes claro por que todos eles tiveram de empreender a longa caminhada. Exteriormente ela valeu, na verdade, para a libertação do país das algemas do usurpador, mas interiormente teve finalidade totalmente diferente. De nenhuma outra maneira o príncipe teria conseguido ligação com as demais tribos. O Pai Eterno desejava que ele levasse a Verdade a todos os Celtas. Agora ele poderia cumprir esta ordem! O príncipe deles! Eles estavam orgulhosos por ele e agradeciam ao Pai Eterno por exatamente eles possuírem como líder Seabhac.

Essa reunião não se realizou então no local de devoção. Algo novo havia surgido nesse meio tempo: Donald havia construído num outro local livre uma casa redonda de madeira, muito grande, mas pouco alta para que eles tivessem um local onde pudessem realizar conversações em geral. A ele o local de devoção parecia muito sagrado para isso. Além disso, por ocasião de chuva contínua, eles deveriam ter um telhado sobre as cabeças e, por fim, o que fosse conversado se conservaria melhor, se soasse dentro de um ambiente fechado.
Seabhac alegrou-se por isso, bem como por todas as outras coisas novas que surgiram nesse meio tempo. Meinin havia construído para as moças uma espécie de escola, na qual elas eram instruídas a costurar, tecer, tear. Quem se mostrasse de forma hábil e aplicada também podia aprender a ler e escrever. A princesa ensinava todos os dias, por um determinado tempo na escola e, na verdade, ela tinha escolhido o canto e o saber a respeito de Deus, como aquilo que ela mais gostava de transmitir às moças.
Muirne, que se tornara muito velha, cuidava, apesar disso, dos três netos. Desde que o seu desejado Cuimin brincasse aos seus pés, ela também presenteava seu amor de avó a Pieder, e Fionn era o seu preferido. Assim, também nisso, tudo acabara ocorrendo de forma boa e pacífica.

A maior modificação, assim acreditava Seabhac, havia ocorrido com Meinin. Ela ainda possuía a mesma atividade rápida que ele sempre admirava nela, mas havia agora no seu ser algo de sonhador, que outrora não havia. Parecia, então, como se ela estivesse envolvida por uma espécie de véu, que a mantivesse distante das coisas exteriores, como se seu espírito trilhasse caminhos próprios, apesar de seu corpo estar no meio deles. Se, então, lhe dirigissem a palavra, podia acontecer que ela desse a resposta como que em sonho e apenas aos poucos ela despertava para aquilo que ocorria ao redor.
Por longo tempo Seabhac observou aquilo silenciosamente, então uma noite ele perguntou à sua esposa, quando eles se encontravam sentados junto ao fogo: “Diga, Meinin, onde tu te encontras, quando tua alma nos escapa?”
Ela corou sorrindo e balançou a cabeça: “Eu não tenho palavras para isso. Querido, eu não posso falar a respeito.”
Então, ele não insistiu mais. Parecia-lhe sagrado o que se passava nela e com isso ele tinha razão. Meinin havia crescido interiormente nos últimos anos. O seu relacionamento espiritual com Brigit, a graciosa, havia lhe aberto os olhos e os ouvidos, de modo que ainda podia perceber e acolher muitas coisas. Frequentemente ela ouvia vozes que pareciam falar de um futuro longínquo, a respeito de um grande acontecimento que iria ocorrer. Mas ela ainda não encontrava nenhuma palavra para anunciar a respeito disso às pessoas. Quando chegasse o tempo, talvez também encontrasse as palavras, nisso ela acreditava confiantemente.

Os jovens que haviam vindo junto com Seabhac, poderiam primeiramente se instalar junto com os alunos dos sacerdotes. Agora se tinha de pensar numa grande construção para eles que, se tornava cada vez mais urgente, devido ao fato de não parar de afluir cada vez mais jovens homens querendo igualmente obter instrução. E Seabhac, assim como o druida superior, era da opinião de que ninguém que pedisse deveria ser recusado, se não se mostrasse indigno à doutrina. Esse, porém, não era o caso com nenhum desses jovens seres humanos, já que eles se apresentavam com os corações abertos e cheios de anseio interior. Vigorosamente eles auxiliavam na construção. Eles se alegravam em poder erigir o lar que deveria ser deles por longo tempo. Eles, porém, o fizeram de tal forma que ao redor do grande aposento central surgiram inúmeras câmaras pequenas, nas quais dois alunos podiam morar juntos.
A maioria deles havia trazido junto cereais, gado, pedras preciosas, pérolas ou metais para compensar pelo sustento e pelo aprendizado. Muita coisa o povo de Seabhac chegou a conhecer, coisas essas que lhes eram novas. Se então, algo lhes agradava, procuravam adquirir por meio da troca em quantidades maiores. Relações mais ativas com as outras tribos foram então abertas com isso. Onde anteriormente, devido aos saques e roubos de outrora havia imperado uma tensa inimizade, agora um laço de união interior envolvia tudo que se denominava Celta no grande e extenso reino.

(continua)

Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos

Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht  

Muirne: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino salva e aceita para proteção.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.

Donald: Escolhido como novo Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)

Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.

Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é, Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.