terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Sobre a Vida dos Celtas III







Para leitura do trecho anterior: Sobre a Vida dos Celtas II

Sobre a vida dos Celtas – III


Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff
  
Anteriormente: Seabhac, Habicht entra em acordo com o druida Padraic pela proibição vinda como exigência do alto da prática do sacrifício humano, no culto dos druidas...

Das outras cabanas vinham agora os “sub - druidas” com os jovens alunos. Eles reuniram-se em torno de ambos e pai Padraic comunicou-lhes que resolução ele havia tomado há pouco. O pensamento a respeito de que no futuro deveriam ficar descartados os sacrifícios agradou sobremaneira os mais jovens. Especialmente os alunos que se enojavam diante disso e um deles, muito vivaz de um país mais ao sul com o nome de Merwin, exclamou entusiasmado: “Como o Pai Eterno alegrar-se-á quando não mais se elevar até Ele nenhuma exalação de sangue! Talvez Seus servos presidam nossa festa!”
Seabhac despediu-se, a fim de retornar à sua casa. O coração dele estava repleto de gratidão. Acima de toda a expectativa a difícil tarefa havia dado certo. Ele sabia muito bem que a bondade do Pai Eterno lhe havia auxiliado. Ele ainda não havia caminhado muito, quando outro ser luminoso aproximou-se dele. Ele não parecia tão elevado quanto Nuado, era um pouco mais denso e também algo menor. Mas também ele possuía o andar leve, como que pairando no ar de imagem clara, quase transparente.





Era Gobban também servo do Pai Eterno, o qual havia ensinado aos seres humanos a construir e também lhes instruído como forjar armas e ainda trabalhar o bronze como ornamento. Uma enorme quantidade de pequenos entes era, por sua vez, servos dele, os quais, sem descanso, traziam das montanhas o que Gobban queria para que fosse trabalhado.
— “Eu ouvi teus esforços para com o pai Padraic, a fim de que ele chegasse a um reconhecimento, Seabhac” disse-lhe alegremente. “Onde deixastes tua impaciência e teu ser de costume áspero?”
— “O Pai Eterno lhes pôs um limite, pois assim eles tiveram que se conter” riu o chefe dessa indagação. Então ele levantou o olhar para Gobban. Também este só aparecia quando era preciso falar algo especial.
— “Ouça, Seabhac, seria bom se desses aos druidas novos incensórios para a festa. Os antigos estão conspurcados pelo sangue das vítimas. Nem para Lug, o maldoso, eles são suficientemente bons. Eu vim para te oferecer ajuda, para que três de teus mais hábeis homens venham ao velho local de forja na floresta. Eu próprio quero lhes instruir a respeito do trabalho. Mas ordene que eles fiquem em silêncio! Não é bom que se fale em demasia a respeito das graças do Pai Eterno.
Seabhac agradeceu e prometeu escolher cautelosamente os homens. Depois disso, eles se separaram. Eles haviam se aproximado mais  das cabanas.
Algo maior e mais destacável era a sua cabana como chefe que se situava no meio das outras. Sua mãe vivia ali junto dele e mantinha a casa e as coisas em ordem. Muirne, assim chamava-se sua mãe, que era muito velha. Ela parecia pequena e ressecada, mas seus olhos ainda podiam brilhar como da mulher ovem e com suas mãos magras ainda trabalhava aplicadamente. E disso advinha o fato de Seabhac ainda não ter tido motivo para se casar, pois ele estava muito bem provido.

Também a velha havia pensado pouco a respeito de que ainda faltava mulher para seu filho. Ele ainda estava suficientemente jovem para poder, a qualquer hora, desposar alguém. A esse respeito não se fazia muitas cerimônias. Quando na comunidade uma moça interessava a um homem, então era costume perguntar ao pai desta quanto ela custava. Se eles chegassem num acordo para a negociação, então a moça tinha de ir com aquele que (pelo preço quitado) a escolhera. Eles não recebiam bênçãos e ninguém mais se preocupava com ambos. Era coisa totalmente particular deles, da forma como então eles se entendiam. A mulher tinha de zelar pelo bem-estar do esposo e a manutenção da casa; e tão logo viessem os filhos ampliando a família, ela também tinha que cuidar deles e, juntamente com tudo isso, criar algum animal para que os filhos tivessem alimento. Se o homem fosse abastado, então ele comprava para ela servos dos que foram feitos presos anteriormente ou então ele saía para formar suas próprias “moças cativas” junto à divisa. Se faltassem servas, estas então eram igualmente roubadas ou compradas por moças disponíveis nas tribos vizinhas. No mais o homem tinha que prover e cuidar da alimentação. Ele saía para caçar ou pescar, juntava frutas ou trazia grãos de cereais que nasciam espontaneamente.
Se o homem não se esforçasse o suficiente para a alimentação da família, então a mulher podia reclamar junto aos sacerdotes, os quais faziam com que o homem cumprisse seus deveres.
Se a mulher negligenciasse suas tarefas ou se ela não as fizesse de acordo com as satisfações do homem, então esse tinha o direito de castigá-la, até que ela tivesse aprendido o que o dever exigia.

Se ambos gostavam ou não mais, de viver um com o outro, não vinha ao caso a questão. Por isso o homem devia ter pensado antes de ter trazido a mulher para dentro de sua casa. Desse momento em diante eles tinham de viver em comum até que a morte os separasse. Uma separação não existia, nisso ninguém havia pensado como resolver.
Até então Seabhac nem havia visto ainda a possível moça com a qual talvez quisesse se ligar para sempre. Quando, naquela noite ele entrou em sua cabana, encontrou Muirne sentada ao lado do fogo. Ela cochilava. A cabeça com cabelos brancos estava caída sobre o peito, os traços do rosto mostravam palidez transparecendo estar quase no momento para um falecimento iminente. Seabhac assustou-se. Ele dependia de sua mãe, muito mais ainda, pela comodidade que o trabalho dela significava para ele. Assim sendo, agora já estava na hora de pensar em desposar alguém.
Depois se sentou do outro lado do fogo, onde previamente havia sido colocado para ele um recipiente com um caldo fortalecedor. Enquanto o tomava, aos rápidos goles, deixou passar diante de seus olhos interiores, todas as moças que conhecia. Em cada uma delas havia algo a censurar. Uma era muito gorda, a outra muito magra, aquela tal muito preguiçosa, aquela outra muito barulhenta e tagarela... Então lhe sobreveio uma frase que seu pai havia lhe dito outrora: “Quando, algum dia, tu quiseres desposar, então Brigit cuidará para que tu encontres uma esposa!”





Ele sorriu. Isto não seria um pensamento tolo, se pedisse para a protetora do fogo e do lar que o auxiliasse a encontrar uma esposa. Então, certamente esta também teria de ser uma esposa na qual o Pai Eterno encontraria sua satisfação. Mal havia pensado nisso, então já começou a chamar suavemente por Brigit. Era como se ele visse a delicada figura ao lado do fogo, ainda que pudesse ser uma ilusão. Pois seriamente ele apresentou o seu pedido, que lhe parecia ser muito importante, por ele o estar levando com sensação de realidade. Ele tinha que ter incondicionalmente uma esposa. Nem podia mais imaginar sua vida futura sem uma companheira. Então, ele ouviu uma amável voz, que lhe falou suavemente: Seabhac, é bom que peças meu conselho. Se todos os homens se deixassem guiar por mim na escolha de suas esposas, haveria então mais casamentos felizes.

Ouça: ainda hoje à noite te será trazido na cabana aquela que deverá se tornar tua futura esposa. Contudo, acautela-te de tocá-la antes que tenha chegado o tempo para isso. Coloca-a ainda hoje a noite para fora de casa e só te aproximes dela quando eu te permitir.
A voz silenciou, lá fora bateram fortemente à porta. Uma lança passou zunindo pelo telhado. Este era o sinal que alguém queria entrar. Muirne despertou e ergueu-se tremendo. Seabhac, porém, havia se apressado até a entrada, antes que uma das servas viesse dos aposentos dos fundos.
De fora pulou um cavaleiro de seu pequeno cavalo, esgotado. Ele tinha nos braços uma mulher. Seabhac viu longos cabelos dourados balançarem ao vento. Mais ele não pôde distinguir, a mulher estava envolta em cobertas. Eram peles preciosas, a mulher deveria ser nobre e rica.
— “Tu és o chefe desta tribo?” perguntou o estranho e dispôs-se a entrar com sua carga para dentro da cabana. Lembrando-se da advertência, Seabhac colocou-se no caminho.
— “Tu tens razão estranho, eu sou o chefe daqui. Se tu queres me trazer uma moça para que eu cuide dela, então saiba que eu não tenho nenhuma esposa para cuidar de minha cabana. Levai-a até a casa vizinha, onde Sile, minha irmã, mora com seu marido. Lá ela estará mais bem guardada.”
Sem dizer uma palavra contrária, o cavaleiro virou-se e dirigiu seus passos para a cabana indicada. Seabhac seguiu-o. Com poucas palavras ele entendeu-se com Sile, a qual lhe prometeu cuidar amavelmente da moça. De volta, Seabhac pediu ao cavaleiro para que viesse mais tarde, para que eles pudessem conversar o necessário pelo acordo.
Muirne estava revoltada, quando o filho entrou novamente na cabana. Como podia ele dizer que em sua cabana faltava a mulher! Não seria aquela como mãe ainda melhor? Não teria ela cuidado ainda melhor da estranha do que qualquer mulher casada e jovem?
— “Deixa que seja assim, mãe” conciliou Seabhac “teria sido muito para ti. Nós não sabemos se a estranha está doente ou talvez até ferida. Sile é jovem e pode realizar facilmente o trabalho. Tu podes ajudá-la tanto quanto quiserdes” acrescentou o filho sorrindo. Ele conhecia a curiosidade de sua velha mãe.

Depois de pouco tempo o cavaleiro de volta entrava por sua porta. Ele entregou ao chefe um pesado feixe e pediu-lhe para que o guardasse muito bem. Era o devido dote de Meinin. Mais eles não podiam esperar, pois a suntuosa casa de seu pai havia sido incendiada. Inimigos haviam atacado a tribo, na qual o pai de Meinin era chefe. Ele, o servo de confiança da família, havia salvado a moça e a trazido para a escolha de Seabhac. Agora ele queria voltar e ver se ainda poderia encontrar seu senhor, o qual havia sido aprisionado.
— “Case com Meinin” aconselhou o servo. “Ela é de origem nobre e uma mulher melhor jamais poderás encontrar.”
O chefe teria gostado de saber ainda mais, mas o servo tinha pressa. Cada minuto era precioso. Ele rejeitou até o descanso oferecido e saltou para cima de seu cavalo, saindo noite afora. Muirne, porém, esgueirou-se à cabana de Sile, cujo marido estava caçando e procurou ver a moça para, se possível, conversar com ela.

(continua)

Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos

Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.

Brigit: é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.